Certa vez fiz uma dinâmica com um
pequeno grupo de mulheres que liderei numa determinada igreja em que pastoreamos. A dinâmica estava baseada na história bíblica do paralítico
que desceu pelo telhado ao encontro de Jesus (Marcos 2:1-12). Entreguei para
elas uma folha em branco e pedi que desenhassem uma maca e no centro da maca deveriam escrever um
problema pessoal difícil de carregar sozinhas. Depois em cada ponta da maca deveriam
escrever o nome de quatro amigos, que se precisassem, com certeza, carregariam
a sua maca. Dei alguns minutos e fiquei observando. Não foi difícil para elas fazerem o desenho e escrever o nome do problema, mas na hora de identificar os quatro
amigos, aí sim, foi difícil. Olhavam para o desenho, para o alto, escreviam um
nome e depois riscavam, mexiam com a caneta, e a maioria, por mais que déssemos
mais tempo, não conseguiram encontrar na sua rede de relacionamentos, quatro
amigos de verdade. Escreveram um nome, dois no máximo. E olha que estou falando
de mulheres que há anos frequentavam a igreja, mas nem mesmo dentro da
instituição tinham amigos com esse grau de comprometimento. Teve uma senhora
que na hora de compartilhar disse que colocou o nome das filhas, porém, não
tinha certeza que ajudariam. Triste não é mesmo?
Aquele paralítico era sortudo, pois contava com quatro amigos altruístas que mesmo diante de
tamanho obstáculo não desistiram de levá-lo a Jesus. A presença de Jesus na
cidade causava uma agitação muito grande nas pessoas, logo, logo juntava uma
grande multidão na expectativa de vê-lo fazer milagres, ou na busca de alcançar uma graça. Naquele dia
não foi diferente. Jesus estava em uma
casa na cidade de Cafarnaum ministrando a Palavra e ensinando o povo. A casa
estava repleta, havia muitas pessoas
espremidas naquele lugar. Aqueles quatro homens com a missão de levar o amigo
paralítico até Jesus, não tinham a mínima condição de entrar pela porta da
frente, nem pela porta do quintal e muito menos pelas janelas, todas as
entradas estavam bloqueadas de gente desejando ver e ouvir o Mestre. Mas eles não
desistiram diante da barreira humana, o amigo tinha que ter um encontro com
Jesus naquele dia de qualquer jeito. Não sei qual dos quatro teve a ideia de
fazer um buraco no telhado e descer o amigo paralítico, mas com certeza era
alguém com um coração de servo, não só o dele, mas também dos outros que aceitaram a empreitada de bom
grado, tudo para ver o amigo curado. Quem sabe os quatro homens moravam perto
uns dos outros, e ficavam conversando na
calçada da casa do amigo paralítico
fazendo planos, rindo juntos, comentando sobre um homem chamado Jesus que
operava milagres e que logo estaria na cidade e como seria bom o amigo ser
curado e andar com eles por toda parte sem ser carregado.
Tenho
medo de altura, faço de tudo para não precisar subir em uma escada, agora
imagina aqueles quatro homens, que além de subir no terraço carregando um
paralítico impossibilitado de ajudar, teriam que fazer um buraco , amarrar a maca com
cordas e descê-la até Jesus. Fico imaginando a cena - Jesus está ensinando em
uma casa apinhada de gente e de repente percebe
as pessoas inquietas, olhando para o alto, a princípio está caindo poeira,
barro, mas logo avistam o rosto de quatro homens, Jesus para de falar, também
olha, e fica admirado ao contemplar um paralítico descendo em uma maca com a
ajuda de amigos. Jesus entende que aquele doente quer ser curado, fica
maravilhado com a cena e o esforço dos
amigos, e opera o milagre, dando àquele homem uma vida cheia de novas
possibilidades. Creio que o homem da maca jamais se esqueceu daqueles quatro
amigos que o ajudou no momento em que mais precisou. Com certeza a amizade deles só cresceu depois dessa experiência.
Quem têm amigos como aquele paralítico, é uma pessoa extremamente rica, independente se mora na favela ou no Morumbi.
A maior riqueza de um homem não são os bens materiais, ou uma conta recheada no
banco, e sim, os amigos que conseguiu juntar ao longo da vida. Do que adianta
trabalhar tanto, correr feito louco atrás de um padrão de vida ideal e chegar ao
fim da vida só. Do que adianta ter tanto dinheiro e não ter um ombro amigo para chorar no dia mau. Soube de um
senhor que os Vizinhos só descobriram a sua morte depois de uma semana quando o
mau cheiro tomou conta da rua em que moravam. Ninguém sentiu falta daquele
infeliz, nem a sua família, só o descobriram porque cheirou mal e tiveram que
arrombar a sua porta. Fico me perguntando como esse homem gastou os seus dias,
o que preenchia as suas horas, por que ninguém sentiu a sua falta? E aqueles
idosos esquecidos nos asilos, nos hospitais por dias ou anos sem alguém para
visitar? Por que chegaram a esse ponto de ninguém se importar com eles?
O relato bíblico me leva a rever os meus valores. De que forma priorizo o
outro, quantas vezes abro a porta da minha casa para receber, com que
frequência visito os amigos, até que ponto estou disposta a carregar a maca do
outro incondicionalmente? Amizade é um investimento maravilhoso, o retorno é a
companhia de pessoas queridas que não nos deixa na mão, que nos visita
independente de ocasiões especiais, que nos dá a liberdade de ligar às quatro
da manhã angustiados, que não nos ridiculariza pela tomada de decisão, que não
abandona o barco na hora da tempestade, que é capaz de tirar do seu para nos
suprir. Esse tipo de amizade não tem preço, quem tem amigos assim é uma pessoa
extremamente rica.
Faça a dinâmica da maca e veja se têm quatro amigos como os do
paralítico. Se tiver, louve a Deus, do contrário, dá tempo de correr atrás e
resgatar as amizades que ficaram distantes e também de buscar novos amigos. Só não
esqueça, de que o verdadeiro amigo se revela com o tempo. Seja você também o
amigo que carrega a maca. De repente você
tem um amigo precisando de um telefonema, uma oração, uma palavra de
conforto, uma visita, um ombro para chorar ou quem sabe de colo Talvez ele
precisa ser apresentado a Jesus e ter a sua vida transformada. Se Deus o fez lembrar-se
de alguém, não se intimide, faça contato com essa pessoa, ela jamais vai
esquecer esse gesto seu.
Você só terá amigos amanhã se os fizer hoje. Não se faz um amigo da
noite para o dia, leva tempo, mas vale a pena, pois a verdadeira amizade é para
a vida toda.
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