"Por
que devo passar uma hora em oração quando, durante esse espaço de tempo, nada
mais faço senão pensar nas pessoas com quem estou zangado ou estão zangados
comigo, em livros que deveria ler e livros que deveria escrever e milhares de
outras coisas bobas que por acaso tomam conta de minha mente por um instante. (
Henry Nouwen)
“Henry Nouwen faz essa pergunta de
diferentes maneiras, aventando diversas respostas. Às Vezes ele recorre à
necessidade de disciplina espiritual, de ser leal até mesmo sem uma recompensa
aparente: ‘Devemos orar primeiramente porque é bom e nos ajuda, mas porque Deus
nos ama e quer nossa atenção.’
Por
fim, Nouwen conclui que ‘sentar-se na presença de Deus durante uma hora cada
manha – dia após dia, semana após semana e mês após mês, em total confusão e
com mil distrações – muda a minha vida radicalmente.’ Ele aprendeu humildade e
dependência, e depois de horas de persistente oração sem nenhum sinal óbvio de
seus frutos, percebeu que uma voz minúscula e suave estivera de fato falando o
tempo todo.
‘A oração não faz Deus mudar de ideia,
mas muda quem ora’? Talvez, em algumas ocasiões, as mudanças internas forjadas
por meio da oração possibilitem respostas que há muito tempo estejamos
procurando – a “mudança” em Deus, se você prefere dizer assim. A oração persistente conduz-nos a um novo
estado espiritual, à disposição da ação divina. Talvez seja por isso que Abraão,
Moisés, Jacó e outros se acharam envolvidos numa luta tão feroz: essa aparente
luta contra Deus estava desenvolvendo neles qualidades divinas desejadas por
Deus o tempo todo.
‘Acaso o maior desastre possível,
quando você está lutando com Deus, não é apanhar?’, pergunta Simone Weil. Em
outras palavras, o que na hora parece uma derrota pode emergir como uma
duradoura vitória. Jacó, o trapaceiro, caminhava orgulhosamente sobre ambas as
pernas; Israel, o pai das nações, entrou para a História mancando. O verdadeiro
valor da oração persistente não reside tanto no fato de que conseguimos o que
queremos quanto na constatação de que nos tornamos a pessoa que devemos ser.
[...] A exemplo de Pedro, podemos orar
pedindo comida e receber uma lição sobre racismo; à semelhança de Paulo,
podemos orar pedindo cura e receber humildade. Podemos pedir o escape da
provação e receber paciência para suportá-la. Podemos orar pela soltura da
prisão e receber a força para resgatar o tempo de aprisionamento. Pedir,
procurar e bater à porta tem um efeito para Deus, como insiste Jesus, mas
também exerce um efeito em quem pede, busca e bate à porta.
[...] A oração oferece uma
oportunidade para Deus nos remodelar, esculpir o mármore como um escultor,
retocar as cores como um artista, editar as palavras como um escritor. O
trabalho continua até a morte, embora nunca fique perfeito nessa vida.”
Fonte: YANCEY, Philip – Oração: Ela faz
a diferença? São Paulo: Editora vida, 2007.
( Pg 189, 190,191)