24 de abril de 2012

Salto alto apenas no pé, não na cabeça.



         
                Como toda mulher, adoro um salto alto. A roupa pode até não estar legal, mas quando a gente põe um salto, tudo muda. Nada de errado em subir num salto, ficar bonita. O erro é usar o salto errado, ou seja, o salto da arrogância, do orgulho, da insensibilidade, do preconceito, da mesquinharia, da omissão...
          Quando eu coordenava um projeto social no interior do Ceará costumava enfatizar para o meu pequeno grupo de mulheres que o errado não é subir no salto, mas não conseguir descer dele. Tem gente dentro da igreja que não consegue se envolver nas causas sociais por se sentir importante demais, ou ocupados demais para gastar tempo, dinheiro e talento com uma criança carente ou  uma mãe que passou o dia na rua, debaixo de um calor infernal catando material reciclável para sustentar a casa. Como eu admiro essas mulheres! Tive o privilégio de conhecer algumas dessas guerreiras “catadoras de lixo”.
          Às vezes ficava observando a igreja no domingo. Tão bonita! Bem arrumada, afinada, sorridente, amável. Por que brilhar tanto entre quatro paredes? Já pensou se durante a semana toda essa força descesse para fazer a diferença lá nas periferias, nos projetos sociais, ONGs, associações, seja através do tempo, talento, doações, orações, etc.?  Mas é difícil descer do salto da posição social, do comodismo para servir aos carentes, onde não há holofotes e sim muito serviço. Ai eu ficava matutando, será que a igreja conhece verdadeiramente a Jesus de Nazaré? Quando louvam, leem a Bíblia, vão os cultos, oram, será que sabem o que estão fazendo? “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens, e sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2:5-8).


“Como pode permanecer nele o amor de Deus?”




“Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, e não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de Palavra nem de boca, mas em ação e em verdade”. (I João 3:17-18)
         O apóstolo João, em sua primeira carta, desmascara todo e qualquer farisaísmo, colocando o dedo na ferida, quando duvida do amor de quem não se compadece do próximo em necessidade: ”...como pode permanecer nele o amor de Deus?”. Quem ama compadece, estende a mão, abençoa, se  doa, se entrega, se sacrifica.
          “Filhinhos, não amemos de Palavra nem de boca, mas em ação e em verdade”.  Essa pergunta deveria fazer eco em nossas mentes, deveríamos nos perguntar constantemente: amo em ação e em verdade? O pastor da minha igreja “ama em ação e em verdade”? O diácono, o presbítero, o líder, os membros da minha comunidade, amam em ações e em verdade?
         Como pode alguém que se diz discípulo de Jesus, ter recursos materiais, e negar-se a ajudar nas causas sociais da igreja? Como pode esse mesmo irmão participar de cultos, ter momentos de oração, mas não se comover com a causa do órfão e da viúva?
          Há muitas vozes dissonantes dentro da igreja. A falta de harmonia entre o que se prega, e o que se vive, é gritante. São poucos, pouquíssimos, e tive o privilégio de andar com alguns, que entenderam a importância, o privilégio de servir ao próximo. Nada paga o brilho no olhar de uma criança carente quando você oferece alimento de qualidade. Nada é mais gratificante do que ver jovens crescendo profissionalmente porque você ensinou a pescar. É maravilhoso, perceber o agradecimento no olhar de uma mãe, quando sente que apesar de trabalhar no lixão, é amada, acolhida, valorizada e tratada com igualdade. É edificante ver que o jovem que você acreditou, investiu não se tornou um bandido, drogado, embora tudo contribuísse para isso, mas um servo de Deus.
          Hoje li um texto que se encontra no livro de Lucas 14: 13-14 que falou profundamente ao meu coração, ele causa um choque de lucidez numa época em que muitas igrejas pregam a prosperidade, “ mas quando der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos, e cegos. Feliz é você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressureição dos justos”.
          Quantas festas você já participou? Muitas, né? Já viu essas pessoas entre os convidados? Nem eu. Aliás, uma única vez, num casamento celebrado pelo meu esposo, presenciei entre os convidados, pessoas carentes. Passei a admirar mais ainda aquele casal, a noiva tinha trabalhado num projeto social e não esqueceu os amigos que lá fizera.
          “Filhinhos, não amemos de Palavra nem de boca, mas em ação e em verdade”.

13 de abril de 2012

Devaneios de criança



         
        “ Ler, ler, ler, viver a vida que outros sonharam.” Unamuno acertou ao expressar o poder da leitura. Quando o livro é bom ele dialoga conosco, nos transporta para lugares impossíveis, se torna amigo, parceiro e companheiro para toda a vida.
        Quando criança me debruçava em cima dos livros e com eles fazia  viagens maravilhosas pelo mundo da imaginação. Alguns despertavam desejos só possíveis na cabeça de uma  criança. Então, nos meus devaneios de infância, eu   queria morar no Sitio do Pica-Pau Amarelo para comer os bolinhos de chuva da tia Nastácia. Quis estar no lugar de  João e Maria e me deliciar com  a casa feita de doces. Ah! Desejei ter o pó de pir lim pim pim da Emília de Monteiro Lobato e aparecer onde  quisesse e assim visitar lugares e cidades que lia nos livros.   Sonhei acordada em encontrar o Gênio da lâmpada e pedir  uma biblioteca só para mim, com estantes que iam do chão ao teto, repleto de livros ao alcance das minhas mãos. Sonhei em ter a galinha dos ovos de ouro e ficava planejando o que fazer com o dinheiro que ganharia. Também sonhei com o príncipe da Bela Adormecida, Branca de Neve...
          Criança que lê é mais feliz, sente menos solidão, tem mais esperança, sonha mais, é mais criativa. O livro tem o poder de nos transportar para outras realidades, outros mundos nem sempre possíveis nessa esfera, quando é fruto da imaginação  do autor, mas não menos importante e enriquecedor.
          Hoje ainda sonho, um sonho possível, basta força de vontade do governo, ONGs, igrejas, empresários, editoras de possibilitar o acesso aos livros para todas as crianças. Já imaginou se todos os templos cristãos do Brasil abrissem as suas portas durante a semana  e oferecessem bibliotecas para  crianças e adolescentes? Quantas deixariam de sonhar com a miséria humana e passariam a sonhar com possibilidades!? Teríamos menos pessimismo e mais esperança.

5 de abril de 2012

Tenho saudade...




Rubem Alves disse em uma  de suas crônicas que “Saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”.
Li esta frase e fiquei pensando... Para onde a minha alma quer voltar, do que tenho saudade? Ah! Tenho saudade de tantas coisas! Da família da Bahia; das histórias que mainha contava tão bem que nos fazia viajar no mundo da imaginação; dos livros que ela pegava na biblioteca para lermos nas férias; dos copos de vitaminas de banana que painho levava na cama para tomarmos antes de  dormir;  do friozinho de Vitória da Conquista  que  me fazia entrar debaixo de  três cobertores para dormir; da minha infância a brincar solta na rua de casa com as minhas irmãs; das broncas da minha avó Cecília do outro lado da rua na janela da sua casa: “Lécia senta direito, você já é uma mocinha” ou “ Maria Vitória você vai deixar as meninas irem sozinhas para a igreja, é muito perigoso? A igreja ficava na rua detrás e já éramos adolescentes; tenho saudade da cumplicidade que o meu   avô João tinha com os netos ao nos deixar brincar na banheira, como se fosse piscina, quando minha avó não estava por perto; Tenho saudade das férias na casa da vovó Neném, do seu cozido delicioso, do barulho da sua máquina de costura que trabalhava o dia todo numa costura perfeita; da festa que fazíamos no quintal ao redor de vovô Jovelino chupando frutas tiradas na hora; do momento em que ele saia do quarto com um saco de balas Juquinha e distribuía entre os netos; das conversas intermináveis na adolescência com Zilma, minha tia da mesma idade; das férias em Salvador na adolescência; da minha primeira igreja( igreja Batista Boa vista) onde aprendi a amar missões; das Escolas Bíblicas de Férias ( EBF) com o pastor Nilton e Edna; dos quatro anos de Seminário Betânia em Fabriciano e o desejo de fazer Jesus conhecido não importando o preço; da Jocum em Contagem, o teatro, as viagens missionarias e  os impactos evangelísticos; Tenho saudade da época em que missões era uma prioridade, servir ao Senhor através da evangelização  uma alegria e participar dos cultos um prazer.
E você tem saudade de que? para onde a sua alma quer voltar?

Como você gostaria de ser lembrado?

 Como você gostaria de ser lembrado?  "...havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que em grego significa Dorcas; que se dedicava ao...